domingo, junho 04, 2006

Que tempo esse...

Não sei bem porque de repente me encontrei pensando sobre estas coisas de tempo e de fatos. Talvez porque pela manhã o locutor da rádio disse um poema que falava de pais e filhos e desta coisa de estar e não estar presente um na vida do outro. Fazia o poema uma relação entre o jogo de esconde- esconde que se brinca quando se é criança, um fica com o rosto escondido sob os braços elevados sobre a cabeça e de encontro à parede e vai contando. E assim os outros vão se escondendo esperando não serem encontrados.

Essa ideia me fez viajar a um passado, para mim não muito remoto, mas ao mesmo tempo tão distante como os trinta e três anos de meu filho mais velho, que em um destes jogos saiu de meu ângulo de visão e quando grito: “Já estou indo.”, “Quente ou frio?” E neste espaço, ficou apenas um grande vazio de onde ecoavam vozes que aos poucos foram mudando de timbre e de assunto, de fazeres e de afazeres.

Agora, quando busco por eles, meus filhos, meus horizontes se nublam e os vejo na mesma posição aquela de contar para que outros se escondam. Agora eu consigo mirar e admirar este jogo que de certa forma fazem todos os seres humanos e creio que até hoje não encontraram a resposta para esta forma de vida, somente um grande vazio ao final. E um eco que repete e repete sem poder dizer nada de novo. E do ribombar dos trovões (naquelas nuvens) se lançam centelhas elétricas aos ares e aos corações, resta apenas gotas de uma chuva que não cai dos céus, mas que tece véus nos olhos que tentam reviver o passado.

Quando crescemos queremos formar uma família. Esta família passa a consumir o nosso tempo e nos perdemos dela, que vai crescendo e se multiplicando em tantas outras onde o mesmo volta a acontecer. Cada um vive no seu próprio mundo, enredado em seus próprios pensamentos, crendo que está fazendo tudo da melhor maneira possível para ser e fazer outros felizes e sequer escuta o que os demais dizem ou tentam dizer, sequer ouve-se a si mesmo. Fala no vazio.

Creio que as relações e a vida deveriam encontrar o fio desta meada que se desenrola e se enche de nós ao longo do tempo e ao longo da história das famílias que vivem um não sei que de relações, onde nem sempre se ouve e se vê o outro que está ao nosso lado. Quase sempre vemos apenas a nós mesmos e nossos fantasmas que vão e voltam enquanto contamos para que nossos pequenos desapareçam de nossa vista e se tornem como nós mesmos, adultos que se perdem no emaranhado do tempo.

Seres racionais que irracionalmente tentam viver um mundo onde a emoção do outro geralmente nos causa dano, nos magoa e onde a nossa faz o mesmo com os demais.

Aí nos damos conta que já é sexta-feira e parece que ontem foi domingo e deveríamos ter ido visitar aos nossos pais, ou aos nossos netos, ou aos nossos filhos, mas tínhamos que fazer algo.

O que era mesmo?

Não lembramos mais e já se passou outra semana, outro mês, outro ano. E baixamos os braços, abrimos os olhos e gritamos:- Já estou indo...
Mas aí já é muito tarde. Talvez nossos pais já se tenham partido, ou nossos filhos partido em busca de algo mais para que seus filhos vivam melhor. E bem, começa tudo outra vez. Lá estão eles de olhos fechados contando:- Um, dois, três...

Que tempo é esse tão atemporal que nos faz perder-nos da vida e seus encantos?


Isiara Mieres Caruso 07/11/2004

Um comentário:

ana paula disse...

ai e como a gente é assim, esquece que o mais importante da vida é o desfrutar da vida, é o cuidar do que se cativa e isso é tão bom e tão fácil. mas a gente esquece das coisas mais simples da vida nesse amontoado de coisas sérias desse mundo de "gente grande".