domingo, abril 29, 2007

O Eco do oco


Ando meio sem rima nos últimos tempos, não sei se perdi a poesia ou ela se perdeu de mim. Talvez as coisas andaram caminhando em agonia, quiçá, não sei. Sei lá...da perda...da orfandade...
Mas agora que só resta a nostalgia, não poderia assim deixar a pena cair da mão, por “pena”de mim ou por ...sei lá porque...não sei..
Ando remexendo no tacho das memórias frias, quem sabe seja isto o que me está trançando as fantasias, as lembranças, meu ser criança de outros tempos, outras auroras, outros carnavais que não sambei...
As palavras se perdem em oco, não em vazio ou em nada, mas num oco cheio de eco, cheio de sons e cheiros: de Maria Fumaça na praia...pipoca, do doce da Sol de Ouro, domingo de tarde, de matiné de cinema no Sete ou no Carlos Gomes, daquela ovelhinha de Páscoa..., candy da Tamandaré...o amendoim da maquininha de Trem na frente do cinema...do grito na calçada...”tem pão quente”..”mamãe dá licença?...quantos passos”...
Quantas voltas deu o mundo, em que volta a gente se perde da infância que se vai e não a vemos partir?
A despedimos um dia (a infância) e nos pusemos a buscar novos caminhos, nosso horizonte e nos fomos distanciando da simplicidade do ser criança e acabamos, como todos nos perdendo no adulto que somos hoje. Aí por vezes paramos olhamos para trás e perguntamos: “Mamãe quantos passos?” e ninguém mais responde...agora nós é que temos que responder..."um miudinho” (para que o gurí ou a guría não corram tanto)...
E aí saio eu a buscar as rimas...

Isiara Mieres Caruso
07/02/2007



Isiara Mieres Caruso
07/02/2007

domingo, abril 22, 2007


A voz do silêncio



A sinfonia do silêncio
amanheceu na retina da noite,
violou meus sentidos,
adormecidos...
cansados do ruidos da vida,
do seu açoite.
De quimeras...
cansada.

A voz do silêncio
acalantou meu coração,
acomodou meus ais,
num doce abraço,
de silêncios ocos
de palavras mudas,
de marcas transpassadas.

Isiara Caruso
15/11/02

sexta-feira, abril 06, 2007

corpos/palavras

corpos flutuam no ar
sem pesar,
a passar entre nós
sobre tudo
sobre todos.
corpos desnudos;
ou vestidos de negro
trajando rigor;
ou roupa simples
vazios,
despojados de cor.
corpos de pensamentos
que se fazem palavras
quentes,
mornas,
frias
e alimentam a poesia.

quinta-feira, abril 05, 2007

A Lua

O luar persegue meus olhos,
através da pequena fresta na janela
e zomba de minha louca agonia
de sonhar sem vestir a fantasia
por desnudar-me de mim
frente ao espelho no escuro
da noite que morre fria.

segunda-feira, abril 02, 2007

palavras densas


os pensamentos são indeléveis,
podem ser densos, fortes,
impalpáveis...suaves...
tomam corpo com as palavras
e se vão de ronda
em passaradas.
Tristeza

para poder chorar
tem que doer primeiro.
e deste choro
sentir o gosto por inteiro
do amargor do pranto
ou do dulçor da lágrima
que corre solta
se ainda é madrugada,
e dói no peito
feito garra aí cravada.
sem nenhum jeito
de ser desgarrada.

(escrita em 23/07/2005)



Teu corpo...

reticência que brinca no olhar,
exclamação que deixas ao passar,

vírgula, para algo que virá,
interrogação marcada no contorno,
dois pontos que antecipam o prazer,
ponto e vírgula que descreve teu andar.