sábado, janeiro 30, 2016

Vou-me embora! (pra onde mesmo?).



Outro dia escutando um poema em que Jessie Quirino deseja voltar ao passado, porque lá neste lugar do tempo o mundo era melhor, comecei a analisar a vida que tenho hoje e a que tinha no passado e pensei: “Vou embora pro passado” sonhando ir ao encontro das coisas simples daquele tempo.

Olho pela janela e vejo os anos 50 desfilando lá fora, anos em que vivi a primeira década da minha vida, minha infância. Lá as ruas eram tranquilas, podíamos brincar e correr pelo meio da rua sem nos preocuparmos com o trânsito, pois raramente passaria um automóvel por ali. Então o jogo de bola corria solto, o esconde-esconde, os brinquedos de roda podiam ocorrer sem pressa.

Esta era a verdade, o mundo não tinha pressa. As coisas eram mais tranquilas. As máquinas de calcular estavam nos grandes negócios e eram imensas, ocupavam boa parte do balcão seja da loja, do bar ou da livraria. Na escola, não estavam com certeza, o máximo era um lápis aonde vinha tabuada impressa e rapidamente saía de nossas vistas em um dia de sabatina. Está aí algo engraçado, fazíamos sabatina em qualquer dia da semana, mas a palavra tem origem na revisão que se fazia no sábado da matéria dada durante a semana.
A segunda guerra mundial acabara há pouco tempo e começava a se restabelecer o crescimento, apareciam coisas e modas que fizeram desta década a época de ouro, nome pelo qual é reconhecida até hoje. Os famosos anos dourados quando apareceu o rock, beldades de cinema, famosas até hoje e copiadas ainda pelas novas gerações. Há poucos dias venderam aquele vestido da Marilyn (aquele que levantou com o vento) por alguns milhões de dólares. Lindos tempos!

Nas cidades interioranas lá pelas dezoito horas, quando o sino das igrejas dava as seis badaladas da hora do “ângelus” ouviam-se nomes gritados pelas mães que chamavam seus filhos para casa, pois era hora da janta e o pai estava por chegar. As crianças estavam pelas redondezas jogando bola, soltando pandorga, brincando com seus companheiros de bairro, sendo crianças, crescendo e construindo-se para o futuro. Hoje desaprendem o ser criança. Transformam-se numa imitação dos adultos, presos a uma imagem vendida pelos meios de comunicação, pelas redes sociais, seus corpos esqueceram as lições da motricidade, vivem encerrados em si mesmos em nome da comunicação.

Alguma vez escuto no eco da memória palavras dos adultos, que se matavam trabalhando, e diziam que tinham que deixar um mundo melhor para os filhos e netos. Hoje reavaliando o que passou parece-me que se criaram facilidades em relação ao mundo de ontem, é um mundo melhor com mais ferramentas, com mais tecnologia. Não se necessita mais ir para o tanque lavar trouxas de roupa como se fazia, a máquina de lavar e até a de secar dão conta de tudo, a geladeira de antes onde se colocava o gelo que o geleiro trazia não está mais, temos os refrigeradores modernos, os freezer, enfim tanta coisa para deixar a vida mais prazenteira. As comunicações encurtaram distâncias, o conhecimento do mundo inteiro esta ao alcance de um clique, percorrem-se caminhos antes impensados, mas, em tudo isto parece ter havido um lapso. Preocuparam–se em deixar um mundo melhor para os filhos, mas não em deixar um filho melhor para viver neste mundo. E deu no que deu. Hoje temos uma série de pessoas desajustadas que não sabem o que fazer com o mundo que têm e muitas vezes a solução mais fácil é destruir o que hipoteticamente os agride, do que preservar.
E aí entramos na roda outra vez.

Volto à vidraça!

Agora as coisas lá fora já têm um ritmo voraz. O mundo tem pressa e devora o que se interponha em seu caminho. Onde está minha boneca de massa? Onde está a pandorga que voava? Onde estão as bolinhas de gude que o menino atirou? Onde está a menina que brincava com bonecas? Onde estão os meninos que jogavam bola?
IsiCaruso
17/07/2011.



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