RUI BARBOSA -
um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo, foi um dos organizadores da
República e coautor da constituição da Primeira República juntamente com
Prudente de Morais. Rui Barbosa atuou na defesa do federalismo, do
abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias individuais. (Wikipédia). Deixou-nos esta pérola, infelizmente, perfeita
para o momento atual.
Como ele
sinto vergonha de mim.
Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de
parte deste povo,
por ter batalhado sempre
pela justiça,
por compactuar com a
honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já
chamado varonil
enveredar pelo caminho da
desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma
era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus
filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos
vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o 'eu' feliz a qualquer
custo,
buscando a tal 'felicidade'
em caminhos eivados de
desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro
cometido,
a tantos 'floreios' para
justificar
actos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre 'contestar',
voltar atrás
e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha
impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino
e jamais usei a minha
Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação
de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo deste mundo!
'De tanto ver triunfar as
nulidades,
de tanto ver prosperar a
desonra,
de tanto ver crescer a
injustiça,
de tanto ver agigantarem-se
os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da
virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser
honesto'.
Rui Barbosa