Titãs:
“Papai, mamãe, titia... Vovô, vovó, sobrinha
Família, família”
Naquela casa de um tranquilo subúrbio o domingo havia transcorrido na mesmice de sempre. O pai atirado no sofá sem tomar banho desde sexta-feira, afinal não tinha que ir trabalhar. A mãe na rotina de sempre: arrumação da casa, pelo menos o básico, já que a sogra poderia aparecer. A filha havia saído no sábado para uma festa com as amigas. Na televisão os programas característicos do dia e mais os relatórios sobre TODOS os jogos de futebol acontecidos.
Quase na hora de ir para cama a menina entra toda feliz com a mochila no ombro.
- Oi Iseut, como foi seu dia filhota? Namorado novo? Este sorriso promete!
- Não mãe, nenhum namorado, aliás, faz tempo que tenho uma namorada e vocês a conhecem, é a Lucinha.
A mãe que havia levantado pra fazer um café cai sentada na primeira cadeira que encontra.
O pai dá um salto do sofá, derruba todas as coisas que havia acumulado durante o dia ao seu redor e dá um grito daqueles de fazer inveja à torcida do time campeão do momento:
- NAMORADA? Tá louca menina? Tá pensado que me matei trabalhando para te educar e tens uma namorada?
- Ah, faltou dizer algo, amanhã vou morar com ela, nós vamos nos casar.
A mãe desmaia, o pai passa mal e cai outra vez no sofá com os olhos arregalados e a mão no peito, ofegante.
Ainda que muitos gritem, desmaiem ou tenham um tangolomango no meio da sala, os novos modelos vêm se impondo.
As mudanças na constituição de 1988 deram um sinal verde quando “promoveram mudanças nos direitos da personalidade e da família... o reconhecimento de novas entidades familiares, a igualdade dos cônjuges e dos filhos e a facilitação do divórcio”.
O modelo anterior formado por pai, mãe e filhos, vem sendo substituído e hoje nos deparamos com uma pluralidade de famílias, termo que a muitos lhes custa aceitar como tal, pois o modelo patriarcal que marcou o ritmo e os rumos deixou de ser único e a aceitação de distintas formas de grupos familiares começou a mudar a mentalidade da sociedade e a convivência vem sendo mais harmoniosa, ainda que difícil.
Enfim esta questão da composição das famílias modernas é apenas a ponta do iceberg, por trás dela está um sem fim de valores e preconceitos que, todavia, interferem nestas mudanças que a sociedade vem construindo ao longo dos tempos.
Ainda restam muitos caminhos por andar e muitos tsunamis por acontecer em alguma sala de estar.
Isiara Caruso