Não sei bem porque de repente me encontrei pensando sobre estas coisas de tempo e de fatos. Talvez porque pela manhã o locutor da rádio disse um poema que falava de pais e filhos e desta coisa de estar e não estar presente um na vida do outro. Fazia o poema uma relação entre o jogo de esconde- esconde que se brinca quando se é criança, um fica com o rosto escondido sob os braços elevados sobre a cabeça e de encontro à parede e vai contando. E assim os outros vão se escondendo esperando não serem encontrados.
Essa ideia me fez viajar a um
passado, para mim não muito remoto, mas ao mesmo tempo tão distante como os
trinta e três anos de meu filho mais velho, que em um destes jogos saiu de meu
ângulo de visão e quando grito: “Já estou indo.”, “Quente ou frio?” E neste espaço,
ficou apenas um grande vazio de onde ecoavam vozes que aos poucos foram mudando
de timbre e de assunto, de fazeres e de afazeres.
Agora, quando busco por eles,
meus filhos, meus horizontes se nublam e os vejo na mesma posição aquela de
contar para que outros se escondam. Agora eu consigo mirar e admirar este jogo
que de certa forma fazem todos os seres humanos e creio que até hoje não
encontraram a resposta para esta forma de vida, somente um grande vazio ao
final. E um eco que repete e repete sem poder dizer nada de novo. E do ribombar
dos trovões (naquelas nuvens) se lançam centelhas elétricas aos ares e aos
corações, resta apenas gotas de uma chuva que não cai dos céus, mas que tece
véus nos olhos que tentam reviver o passado.
Quando crescemos queremos
formar uma família. Esta família passa a consumir o nosso tempo e nos perdemos
dela, que vai crescendo e se multiplicando em tantas outras onde o mesmo volta
a acontecer. Cada um vive no seu próprio mundo, enredado em seus próprios
pensamentos, crendo que está fazendo tudo da melhor maneira possível para ser e
fazer outros felizes e sequer escuta o que os demais dizem ou tentam dizer,
sequer ouve-se a si mesmo. Fala no vazio.
Creio que as relações e a vida
deveriam encontrar o fio desta meada que se desenrola e se enche de nós ao
longo do tempo e ao longo da história das famílias que vivem um não sei que de
relações, onde nem sempre se ouve e se vê o outro que está ao nosso lado. Quase
sempre vemos apenas a nós mesmos e nossos fantasmas que vão e voltam enquanto
contamos para que nossos pequenos desapareçam de nossa vista e se tornem como
nós mesmos, adultos que se perdem no emaranhado do tempo.
Seres racionais que
irracionalmente tentam viver um mundo onde a emoção do outro geralmente nos
causa dano, nos magoa e onde a nossa faz o mesmo com os demais.
Aí nos damos conta que já é
sexta-feira e parece que ontem foi domingo e deveríamos ter ido visitar aos
nossos pais, ou aos nossos netos, ou aos nossos filhos, mas tínhamos que fazer
algo.
O que era mesmo?
Não lembramos mais e já se
passou outra semana, outro mês, outro ano. E baixamos os braços, abrimos os
olhos e gritamos:- Já estou indo...
Mas aí já é muito tarde. Talvez
nossos pais já se tenham partido, ou nossos filhos partido em busca de algo
mais para que seus filhos vivam melhor. E bem, começa tudo outra vez. Lá estão
eles de olhos fechados contando:- Um, dois, três...
Que tempo é esse tão atemporal
que nos faz perder-nos da vida e seus encantos?
Um comentário:
ai e como a gente é assim, esquece que o mais importante da vida é o desfrutar da vida, é o cuidar do que se cativa e isso é tão bom e tão fácil. mas a gente esquece das coisas mais simples da vida nesse amontoado de coisas sérias desse mundo de "gente grande".
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