Que
me perdoem os que acham que alfabetização pode ser feita por um “facilitador”,
como chamam às pessoas treinadas para
ensinar a ler alunos de todas as idades e situações sociais, mas eu vejo esta
etapa da escolarização como a base da formação de todos.
Ninguém
consegue chegar a cursar orgulhosamente seu mestrado ou seu doutorado sem antes
haver passado por excelentes alfabetizadores. Coloco aqui a palavra no plural,
pois esta etapa estende-se ao longo dos primeiros quatro anos de uma forma
sistematizada e ao longo da vida estudantil de uma forma permanente, integrada
ao todo como uma competência que serve de base, de estrutura fundamental da
compreensão, da comunicação e da expressão. Professores de todas as áreas são
alfabetizadores.
Numa
conversa uma amiga, professora das séries iniciais, comentava muito preocupada
que havia lido sobre a medida que estaria tomando o governo devido à escassez
de alfabetizadores. Disse-me que estariam pensando em treinar pessoas para alfabetizar, já que
professores formados não aceitam assumir estas classes. Como pode ser esta
medida, se há pouco tempo uma lei determinava que todo professor deveria cursar
universidade para assumir uma classe de ensino inicial?
Busca
o governo através de voluntários suprir o trabalho de profissionais que não
contrataram na época adequada. Agora para maquiar uma falha deixada, e que não
é pequena, selecionam para trabalhar sem salário (neste exemplo do Estado do
Paraná edital nº 15/2013 - DG/SEED): “2.6 O candidato deverá preencher os
seguintes requisitos: ser brasileiro (a) ou naturalizado que tenha domínio da
língua portuguesa; ter cumprido as obrigações militares previstas na lei; ter
idade mínima de 18 (dezoito) anos na data da inscrição; ser, preferencialmente,
professor (a) das redes públicas de ensino, desde que disponham de horário para
desenvolver atividades voluntárias
de alfabetização de jovens, adultos e idosos;” Estes voluntários receberão
bolsas de 500 a 750 reais.
Pergunto:
E o professor que cursou ensino médio e universidade, para especializar-se
conforme a lei, qual o valor do salário que é pago a este profissional
qualificado que deverá construir as fundações do aprendizado de todos os
profissionais que temos? Que salário recebe um político que sequer terminou o
secundário? Que salário recebe um engenheiro que constrói pontes? Na base da
formação de todos eles, quem está? Se paga ao professor o piso estabelecido por
lei e auxílio para que se mobilize ao ir trabalhar em locais de difícil acesso?
Aliás, que profissional especializado recebe as mordomias de um político:
moradia, transporte, viagem de férias, melhores hospitais, etc.?
Quem
de todos estes profissionais tem a maior responsabilidade, senão o professor?
Quem poderia ler e compreender se não houvesse passado por suas mãos? Quem pode
resolver um problema matemático, uma situação de vida sem estar devidamente
alfabetizado?
Está
mais do que na hora de se atribuir o justo valor àqueles a quem você, político,
veta o pagamento do piso salarial decretado por lei. Professor merece
consideração e respeito atribuindo-se a eles reconhecimento e salário digno ou
correremos o risco de no futuro transformar nosso Brasil num país de analfabetos
funcionais sem condições de decidirem sequer os rumos de suas próprias vidas.
Ou será que já somos? Ou será que convém?
IsiCaruso
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